sábado, 5 de maio de 2012

Como nossos pais


Em uma tarde qualquer de encanto e calor em Salvador, no 2 andar na Rua Amazonas, diante do janelão imenso da sala e de finalmente o filho mais velho pegar no sono no quarto ao lado, meus pais enlaçaram-se e conceberam-me. Sim, fui feita numa tarde quente da Bahia, a alguns metros do marzão de Pituba.



A barriga da minha mãe foi crescendo, crescendo, crescendo até que uma notícia de última hora mudou todos os planos anteriormente feitos: meu pai fora demitido do Banco Econômico. Crise dos anos 80 batia na porta e rapidamente as malas, atestado falsificado, meus pais partiram de volta pra São Paulo a quase 20 dias da Mônica desembestar pelo mundo.

Após 31 anos, emocionada ao encontrar o apê da Pituba

Desempregado, meu pai, a Mônica nasceu de parteira, enfermaria, parto normal, no Hospital Santa Marta, na Rua Antônio Bento, a alguns metros do Largo 13 de maio, em Santo Amaro, São Paulo. Curiosamente a alguns metros também do emprego atual dela, que fica na Amador Bueno.

Os primeiros dias da pequena Mônica foram no sobradinho germinado ali em Santo Amaro, ao lado dos cuidados todos dos avós, tios e tias. Moniquinha foi logo já não gostando de rosa, aglutinando pessoas, aprendendo a ser guerreira e independente, uma legítima filha do grande guerreiro da Lua e devota do seu próprio pai de sangue.

Atávica esta relação de pai e mãe. E danada de necessária esta busca para resolver nossas pendengas com eles e entender este redimunho todo que nos envolve desde o nascimento até à morte. Questão de indentificação, de muito amor, de irritação, de expectativas, de ausências, de presenças, de traumas, de mágoas, de carinhos, resultado de todas as nossas escolhas da vida que vem depois que nos desprendemos deles. O cordão é cortado quando? A gente consegue nos desprender totalmente? Porque apesar de tudo, do tempo, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais?




"Descobri cedo nas fotografias da minha mãe que a felicidade é uma coleção de instantes suspensos sobre o tempo que só depois de amarelecidos pela ausência se revelam"

Inês Pedrosa, em Nas Tuas Mãos

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