sábado, 26 de maio de 2012

MARAGOGI ou Caribe Brasileira





Maragogi, em Alagoas, o "Caribe Nordestino" só fomos conhecer depois de dez horas longas de viagem. Partimos de ônibus viação Bonfim da rodoviária nova de Aracaju às 13h. O ônibus com destino a Maceió, passaria também em Arapiraca, a terra das lavadeiras cantoras, no interior de Alagoas. Neste meio tempo, o motorista parou para almoçar numa cidadezinha de Sergipe, depois parou para comer um milho, na estrada, uma saga até chegar na capital alagoana. Enquanto isso, Momô se preparava para se encontrar com o Velho Chico no caminho. Encontro que durou apenas alguns segundos... Logo depois da cidade Propriá, ele surge com aquela imensidão toda, sorriso largo e uma mansa calma. As fotos com reflexos do vidro do ônibus são minha única lembrança deste momento tão esperado. Mas a viagem até Canindé-SE, cidade que abriga o cânion de Xingó, já está sendo prevista para corrigir esta frustração. Meu companheiro de viagem prometeu este "dengo". Numa próxima oportunidade, pegaremos um avião com destino a Aracaju, alugamos um carro e rumamos para Canindé, que fica a 200 km da capital. Vale conhecer também a cidade de Piranhas - AL, histórica e linda, segundo alguns relatos achados na net, rota do cangaço, lugar em que Lampião foi assassinado e cenário da novela Cordel Encantado, que há pouco nos encheu os olhos de tanta beleza.



Quando chegamos em Maceió, amassados, embolados, após presenciar pela janelinha o pôr-do-sol alagoano em seus inúmeros canaviais, com gosto de tapioca quentinha da moça que nos vendeu em Arapiraca, a nossa dúvida era simples: consegueríamos algum ônibus que fosse até Maragogi? Eram sete horas da noite e tínhamos muitas incertezas sobre as próximas horas e nossos corpos que doíam com as pesadas mochilonas em nossos lombos.

As pessoas todas falaram bem de Maceió. Mas o que restou pra mim da passagem relâmpago foi os muros do Sesc Guaxuma e as trapalhadas do Marcos, o motorista de taxi que topou a aventura de nos levar até Maragogi em uma hora e meia por 150 Reais. Já eram 20h, nós estávamos famintos, cansados, quando o pneu do carro do Marcos furou e ficamos vendo estrelas a beira da estrada, num lugarzinho chamado "Paripueira". Não tivemos medo, nem raiva. A trilha sonora que tava boa, ficou ruim de repente. Mas o nosso humor tava ótimo. Naquela noite cúmplice, a prosa se alongou para um lado espiritual e aquele tempo de espera passou depressa. Depois que o Sêo Antônio, pai de Marcos nos socorreu na estrada, pois ele estava sem estepe no carro, seguimos viagem e passamos por Barra de Sto Antônio, vimos a entrada da estrada que ia para São Miguel dos Milagres, depois passamos em Porto de Pedra e Japaratinga até que, enfim, chegamos em Maragogi. Quase onze da noite, tinha a referência anteriormente pesquisada na net de uma pousada que cobrava 80 Reais o casal: solar da praia era o nosso destino com cama macia e vista pro mar. Acho que a dupla merecia conforto depois dos perrengues todos daquele dia. Ficamos. E terminamos numa lanchonete da praia comendo cheeseburger e vendo o Santos perder para o Velez na Argentina pela Libertadores.

Dia seguinte, combinamos de tirar um dia de folga dentro das férias. Era tudo o que mais desejamos nos últimos tempos. Mesmo assim, resolvemos andar para reconhecer a área. Andamos bastante, passamos pelo encontro do rio com o mar, lugar em que se formam uns bancos de areia no meio das águas, quando a maré ainda está baixa e fomos seguindo até a ponta do Mangue. Não sei se chegamos até lá. A maré subiu, nadamos em frente a um resort. O mar é calmo, as águas são transparentes. Lembra a Praia do Forte - BA. Resolvemos continuar a caminhada, paramos para tomar um água de coco e quando vimos a maré já tinha subido bastante e ia dar trabalho atravessar o rio com a mochila nas costas, mas ok, vamos lá! Quando estávamos já cansados de tantar andar, resolvemos parar no hotel, tomamos banho e encaramos um PF de frango assado. Depois disso, só queríamos relaxar, como uma boa praia nos inspira. Acordamos no sábado, pela manhã, com o passeio de barco às piscinas naturais à nossa espera. Maragogi chegava ao final com o prêmio melhor café da manhã e melhor artesanato. Rumo a Recife-Olinda, despedíamos dos nossos dias de praia.



Dicas e Informações:

-  O custo da passagem de Aracaju a Maceió é de, em média, 45 Reais.
- Confira os horários de partida dos ônibus de Maceió a Maragogi. Os horários são escassos e o último parte às 16h20 da rodoviária de Maceió.
- Outra opção é pegar um ônibus que vai até Recife, viação Real-Alagoas, pela rodovia litorânea e não pela BR-101.

- A cidade de Maragogi fica bem pertinho da pista. Em apenas 5 minutos, você está lá. Não precisa de mototaxi.
- Se não quiser ficar esperando o ônibus que vai até Recife (pouquíssimos horários), pode pegar uma lotação para Barreiros - que passa de 10 em 10 minutos, cidade pernambucana que fica a 30 km de Maragogi e de lá, tem mais opções para Recife.


- Maragogi tem uma associação de artesãs da cidade. Os produtos que são colares, bolsas, panos, broches, cintos e chapéus são de muita qualidade e feitos com fibras de bananeira, pedras brasileiras, escamas de peixe. Vale muito a pena conferir. Além da feirinha de artesanato que acontece na orla principal, existe uma loja, ao lado da pousada Solar da Praia, que expõe os produtos de todas as artistas e que estão a venda também. Contatos:
Coisas da Terra - Rose - (82) 9313-1524 e neide_maragogi@hotmail.com
Mulheres de Fibra - Nadeje - (82) 9308-1870/9311-3146
Kilma Bijoux - (82) 9605-5012 e kilma_patricia@hotmail.com
- O passeio de barco às piscinas naturais vale muito a pena. Depois de regatearmos, conseguimos pagar 70 Reais para duas pessoas. Quando você está já em alto mar, o figura do passeio oferece tirar fotos do casal por 50 Reais. Conseguimos pegar nosso máquina e tirar fotos boas, mesmo elas não sendo debaixo d'água.


- Evite fazer o passeio em dias cheios de gente (sábados e domingos). Os peixes ficam assustados com o alvoroço de tantas famílias e fogem. E o grande barato são eles por perto em nossas incursões de mergulhadores por uma manhã com snorkel e se quiser, pés de pato.
- A passagem de Maragogi a Recife pela viação Real Alagoas custa somente R$17,50.


- Solar da Praia, ótima pousada com ar condicionado, varandinha com vista para o mar, frigobar e internet sem fio. Contato: (82) 3296-2025


- Se quiser um lance mais "roots", a indicação é o Camping do Jesus, que fica na ponta do Mangue. Amigos que ficaram por lá, gostaram bastante! Contato: (82) 3296-9182.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Porque todo mundo tem seu dia de namoradeira...

Carolzinha no sítio, em Brazopolis, ano novo de 2011


Namoradeiras baianas

Descobri que a Bahia é terra de namoradeiras. Sabe aquelas moças feitas de gesso ou papel machê ( eu acho!) com seios fartos, geralmente de trança do lado ou turbante, boca e unhas pintadas, decote com cores vivas, brincos de argola e laços? Elas vivem de janela em janela a espera do amado com toda a formosura que a Bahia inspira e respira por suas ruas acaloradas e apimentadas.

E andando pelas ruas, pude constatar que as mulheres baianas são todas meio "namoradeiras" mesmo. É um desfile de charme, de perfumes, de decotes, de cabelos cacheados e escuros.

Hoje, fizemos um passeio por quatro ilhas aqui da Baía de Camamu, vilarejos bem pequenininhos de pescadores... Até entendi porque elas ficam na janela a esperar... o tempo é lento, o ir e vir é por meio de embarcações, ao sabor do vento que sopra quando e quanto ele quer.


Momô imitando a namoradeira do Tio Claudio e da Tia Olímpia, em 2011, em Sto André - BA

terça-feira, 8 de maio de 2012

Receita de uma vida inteira

Quantas histórias cabem num olhar grande feito de olhos miúdos?
Quantos sonhos são possíveis debaixo d'água?
De vidas inteiras somos feitos.
Farinha, ovos, manteiga, leite.
Agregadores.
Sorrisos, 


*** texto escrito 30 de agosto de 2011, perdido em um dos meus caderninhos***



Momô e Mamã no pôr do sol de Itacaré - BA, praia da Concha

Andar com fé eu vou...

... que ela não costuma falhar.



Momô de burca na trilha da Prainha,  em Itacaré

Da Lama ao Caos

Por que quase todas as cidades são caóticas? Trânsito já não é mais exclusividade das grandes cidades como São Paulo, Rio, BH... Salvador, por exemplo, é um terror de tanto carro. E mesmo as cidades menores que vão crescendo desenfreadamente e as calçadas vão se descalçando sem desculpas, as chuvas fazendo ceder todo aquele concreto que não pediu licença.
Lembro-me que durante a minha viagem de 2011, fiquei impressionada com o caos de Nova Friburgo e Teresópolis, localizadas na região serrana do Rio. E nas imediações de Vitória-ES então? Um trânsito bem paulista...

Tirada em 2011, numa segunda também, em ES
Ontem,em plena segundona, fui pra Ilhéus deixar minha mãe no aeroporto e buscar o Raonis para começar a segunda etapa da viagem peregrina 2012. Ilhéus também não foge à  regra das cidades caóticas. Fiquei esperando o tempo passar num quiosque na beira da praia do litoral sul petiscando uma porção de manjubinha e fugindo do congestionamento da cidade de Jorge Amado.

Em Ilhéus, esperando o tempo passar...

domingo, 6 de maio de 2012

No bico da chaleira...

Chove bastante aqui em Itacaré. Sinto falta do cafezinho que eu faço lá em casa na minha garrafa térmica vermelha. Por isso posto uma foto das chaleiras conversando à beira do fogo.

sábado, 5 de maio de 2012

Como nossos pais


Em uma tarde qualquer de encanto e calor em Salvador, no 2 andar na Rua Amazonas, diante do janelão imenso da sala e de finalmente o filho mais velho pegar no sono no quarto ao lado, meus pais enlaçaram-se e conceberam-me. Sim, fui feita numa tarde quente da Bahia, a alguns metros do marzão de Pituba.



A barriga da minha mãe foi crescendo, crescendo, crescendo até que uma notícia de última hora mudou todos os planos anteriormente feitos: meu pai fora demitido do Banco Econômico. Crise dos anos 80 batia na porta e rapidamente as malas, atestado falsificado, meus pais partiram de volta pra São Paulo a quase 20 dias da Mônica desembestar pelo mundo.

Após 31 anos, emocionada ao encontrar o apê da Pituba

Desempregado, meu pai, a Mônica nasceu de parteira, enfermaria, parto normal, no Hospital Santa Marta, na Rua Antônio Bento, a alguns metros do Largo 13 de maio, em Santo Amaro, São Paulo. Curiosamente a alguns metros também do emprego atual dela, que fica na Amador Bueno.

Os primeiros dias da pequena Mônica foram no sobradinho germinado ali em Santo Amaro, ao lado dos cuidados todos dos avós, tios e tias. Moniquinha foi logo já não gostando de rosa, aglutinando pessoas, aprendendo a ser guerreira e independente, uma legítima filha do grande guerreiro da Lua e devota do seu próprio pai de sangue.

Atávica esta relação de pai e mãe. E danada de necessária esta busca para resolver nossas pendengas com eles e entender este redimunho todo que nos envolve desde o nascimento até à morte. Questão de indentificação, de muito amor, de irritação, de expectativas, de ausências, de presenças, de traumas, de mágoas, de carinhos, resultado de todas as nossas escolhas da vida que vem depois que nos desprendemos deles. O cordão é cortado quando? A gente consegue nos desprender totalmente? Porque apesar de tudo, do tempo, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais?




"Descobri cedo nas fotografias da minha mãe que a felicidade é uma coleção de instantes suspensos sobre o tempo que só depois de amarelecidos pela ausência se revelam"

Inês Pedrosa, em Nas Tuas Mãos

Do meio... Ou do começo ... ou do fim.

Em maio de 2011, resolvi fazer uma viagem ao meu descobrimento. Depois de assistir a um café filosófico em que o filósofo Yves de La Taille discorreu sobre a grande diferença entre turista e peregrino, vi o quanto gosto de fazer as vezes de peregrina e o quanto isso tudo faz um sentido maior pra mim. Fiz minhas malas, calibirei os pneus do Donzinho, escolhi uma boa trilha sonora e saí acompanhada por um guia quatro rodas e do meu tio Miguel no porta malas. Esta história do meu tio é um post à parte, em que a minha tia Olímpia explica bem em relato em seu próprio blog. O fato é que esta primeira viagem peregrina foi uma tentativa de voltar às origens, às minhas origens, entender meus traços, meus abraços, meus estardalhaços todos por meio dos meus sobrenomes,  em busca das lembranças e histórias de meus ancestrais perdidos por essas terras de meu deus.

Hoje, em maio de 2012, faço a viagem do descobrimento parte II.  Posso afirmar que estou descobrindo, tirando a venda dos olhos e enxergando sem miopia. Feito Miguilim no final da história, que a paisagem fica nítida e as visagens se cabem todas numa boniteza sem tamanho.


Murakami e o tempo que passa

Meu novo apego é um autor japonês - Haruki Murakami - desde que a minha prima me emprestou um livro em que se tratava de "pensamentos enquanto se corre". Achei muito interessante o mote e o encarei. Veio muito a calhar, pois a leitura se desenvolveu justo durante a minha viagem de 4.000 mil km em 25 dias por cinco estados brasileiros, inúmeras cidades, praias e montanhas. Como eu mesma denomino, a minha "viagem peregrina", eu comigo mesma, a bordo do meu Donzinho que se mostrou tão aventureiro e ponta firme quanto à dona dele.

O curioso é que o Murakami tem uns pensamentos iguais aos meus. E o fato dele discorrer sobre os devaneios que ele tem durante as kilometragens das suas corridas de longas distâncias, em treinos diários, assemelhavam-se às minhas viagens durante o percurso que traçava até a Bahia.



Agora que voltei, minha prima me presenteou com um romance dele de verdade - Norwegian Wood - do qual estou me alimentando durante as manhãs de sol que invadem meu apê paulistano. O Murakami tem sido minha melhor cia desde então... desta minha retomada à leitura, pois, confesso, que andava travada, angustiada e sem qualquer resquício de concentração e tesão para os livros.


"Nada do mundo real é tão belo quanto as ilusões de uma pessoa prestes a perder a consciência".
Murakami, em Do que eu falo quando falo de corrida.


Nesta passagem que ele faz se refere à uma maratona na Grécia e o quanto ele ansiava por uma cerveja gelada. Lembrei de quando fiz o percurso de 10 km em Sto Amaro, na marginal pinheiros da minha infância, e em todas coisas que pensei naquela eterna 1h em que completei a prova. Meu melhor tempo desde então. Excelente forma física me encontrava. E uma das coisas que mais me incentivava a chegar ao fim, em meio à embriaguez que o desgate físico provoca em nós numa manhã de verão com o asfalto queimando, era uma vontade minha de ser beijada por um certo grande amigo meu. Eu achava que se completasse a prova, iria ser agraciada pelo beijo mais desejado por mim naquela época. Do cara que um dia tinha sido completamente apaixonado por mim, e dez anos depois, os sentimentos se inverteram. E por esses dias juninos, fiquei sabendo que o dito cujo está noivo. Pois é, coisas do tempo que passa.


"Sou do tipo de pessoa incapaz de entender bem alguma coisa, seja lá o que for, se não a puser por inteiro no papel".



Murakami, em Norwegian Wood.



***post originalmente escrito em junho de 2011***